A palavra mãe é formada por apenas três letras, entretanto, esta junção é sinônimo de cuidado, carinho, respeito e muitas vezes difícil de ser definida. No dicionário Aurélio, mãe é aquela que dá assistência, que tem um ou vários filhos. Na carreira esportiva, os atletas costumam ter ‘várias mães’, que assumem um papel importante de formação quando aqueles jovens estão longe de casa.
Porém, se muitas vezes quem trabalha com esporte assume o papel de mãe para futuros talentos, quando chega a vez destas profissionais viverem o sonho da maternidade, a gestação precisa ser bem planejada. As atletas pensam no quanto uma gravidez pode afetar os desempenhos em quadra, as integrantes das comissões técnicas ficam de olho nos calendários para adequar o melhor período, assim como as árbitras, que diariamente precisam superar barreiras para mostrar o quanto são competentes comandando uma partida.
“Não existem muitas atletas de alto nível mães no vôlei de praia. Agora, de um tempo para cá, vemos mais atletas se tornando mães, mas é uma geração mais velha, que está optando por isso, a geração que está beirando os 40 anos. Atletas mais novas você não vê tanto”, comenta Ágatha Rippel, mãe da pequena Kahena, de apenas 6 meses.
A atleta paranaense que acumula diversas conquistas em circuitos e campeonatos mundiais, além de uma medalha de prata nas Olimpíadas do Rio de Janeiro 2016, sempre sonhou com a maternidade e planejou a chegada da filha.
“Eu não me imaginava sendo mãe e jogando ao mesmo tempo. Então eu guardei este sonho para viver somente no final da carreira. Na verdade, eu até achava que já estaria aposentada quando resolvesse ser mãe. Acredito que quebrei paradigmas na minha mente quando resolvi voltar a jogar mesmo depois de ter Kahena”, contou Ágatha, que já está de volta às areias, agora ao lado da parceira Rebeca.
Para a multicampeã, não ter abandonado os treinos durante a gestação e o foco em voltar em alto nível fizeram diferença para que o retorno acontecesse em tão curto intervalo de tempo. “Os maiores desafios dentro de quadra são alcançar novamente a alta performance, conseguir estar no mesmo nível. Estou em uma crescente, mas ainda não cheguei no ápice. Já fora de quadra, o grande desafio é conciliar esse tempo de estar com a Kahena e treinando, porque sobra pouco tempo”, comentou a jogadora.
Mas os desafios da maternidade não são exclusivos para as mamães que estão dentro das quatro linhas. Mulheres que trabalham diretamente com o esporte também possuem rotinas de treinamentos e competições, que exigem planejamento para conciliar o sonho de ser mãe e manter os compromissos profissionais.
A treinadora de São José dos Pinhais, Cibele Carbonar, de 29 anos, também é mãe de uma bebê. Rebeca está atualmente com 7 meses e a mãe coruja precisa se desdobrar para cuidar da filha e das atletas.
“O que alterou em relação a rotina foi, principalmente, como eu tenho que me programar antes para realizar as coisas. Antigamente eu poderia fazer em 20 minutos, sair de casa rápido, hoje preciso me programar com uma hora, com grande antecedência e, também, os horários de treinamento”, destaca Cibele, que trocou a categoria adulto pela Sub-14, para conciliar os horários e dar mais atenção a pequena.
A rotina de uma treinadora inclui competições, que muitas vezes não são realizadas na cidade onde moram. Nestes momentos, a divisão entre o lado mãe o lado profissional é ainda mais exigido.
“Uma das dificuldades são as viagens por ela ainda ser bem pequena. Aqui dentro do estado mesmo a gente viaja bastante, algumas demoram de 7 a 8 horas, então é bem cansativo principalmente para um bebê. Algumas eu acabei abrindo mão de viajar optando pelas viagens que são mais perto, isso é uma grande dificuldade para gente que é treinadora. Trabalha, trabalha para a hora que vai desfrutar com um campeonato não poder estar do lado da equipe, mas é um período ainda de adaptação por ela ser bem pequena que a gente faz escolhas”, concluiu Cibele.
Dom de mãe para filho
Tanto Ágatha, quanto Cibele, não escondem o desejo de incentivar as filhas na prática esportiva. Para a atleta, viver o ambiente do esporte contribui na formação como cidadão.
“É tão incrível uma criança ter a possibilidade de formar o seu caráter dentro do esporte, então eu vou querer muito que a Kahena possa viver isso. Se ela vai ser uma atleta de alto rendimento ou jogar uma Olimpíada, isso vai depender se ela vai querer. Mas estar no esporte e viver isso, com certeza eu darei o maior apoio, tanto eu como o Renan vamos fazer isso dentro de casa”, comentou Ágatha.
Mas se para estas novas mamães ver as filhas seguindo o caminho do esporte ainda é um sonho, para uma árbitra paranaense compartilhar as quadras com o filho já é uma realidade. Giseli Paixão, de 35 anos, é árbitra do quadro estadual e herdou para o filho Felipe, de 18, o talento nos apitos.
“Sempre quando estávamos trabalhando ele sentava do lado do apontador (a) e demonstrava interesse em aprender como preencher súmula. Um dia ensinei e ele começou a pegar gosto. No ano passado, quando teve curso, perguntei se ele queria, e ele no mesmo momento disse que sim”, comentou Giseli.
Após mais de 15 anos dedicados à arbitragem, Giseli tem uma nova motivação no ambiente de trabalho. “Eu fico toda orgulhosa, babando no meu pequeno grande homem […] fico admirando e pensando esses dias estava dentro da minha barriga e agora está ali na minha frente enfrentando os desafios da arbitragem e eu poder ajudar é incrível”, declarou a mãe emocionada.
“Ele já estar atuando para mim já é uma imensa alegria, mas acredito que hoje meu maior sonho é que ele cresça por ele mesmo e que num futuro eu esteja em uma competição nacional como apontadora e ele lá atuando como primeiro árbitro”, concluiu a mamãe árbitra.
O futuro dos filhos destas mães do voleibol ainda é repleto de oportunidades. Entretanto, quando Felipe, Rebeca e Kahena olharem para trás, sem dúvidas terão o suporte necessário para lutar pelos sonhos e uma inspiração gigante daquelas que fizeram de tudo pela alegria deles.