Principal revelação do tênis brasileiro, Thiago Wild, 20, volta ao circuito mundial esperando retomar o caminho de ascensão que trilhava antes da paralisação dos torneios pela pandemia de Covid-19.
A partir de segunda-feira (31), no US Open, em Nova York, o jovem fará sua estreia na chave principal de um Grand Slam, para a qual se classificou graças ao desempenho no início de 2020. Seu adversário na primeira rodada será o britânico Daniel Evans, número 28 do ranking. Wild é o 113º.
Antes da pandemia e da suspensão do calendário, o brasileiro vivia o auge da sua ainda curta carreira profissional. Ele começou o mês de março com a conquista do ATP 250 de Santiago, quando se tornou o mais jovem brasileiro a ganhar um torneio da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais), seguida de elogiável atuação na Copa Davis.
As suas preocupações, no entanto, tomaram outro rumo quando a entidade anunciou a paralisação de torneios em todo o mundo. “Eu vinha de uma grande sequência, tinha jogado bem no Rio Open, depois ganhei em Santiago e joguei bem na Copa Davis. Essa parada não veio em uma hora boa para mim”, afirmou Wild à reportagem.
Primeiro, ele precisou se recuperar após pegar a Covid-19 e se instalar na sua cidade natal, Marechal Cândido Rondon, no oeste paranaense.
Nesse período, precisou cumprir uma determinação do Tribunal de Justiça do Paraná e permanecer em quarentena, sob pena de pagar multa de R$ 30 mil. Isso porque o Ministério Público ingressou com ação civil apontando que o tenista e familiares estavam descumprindo o isolamento na cidade.
Passados esses problemas, Wild conseguiu voltar a treinar em condições mais próximas do normal, com a flexibilização das medidas de isolamento, na academia Tennis Route, no Rio de Janeiro, sua base desde a adolescência.
Se em março o atleta se preparava para a temporada europeia de saibro, passou a priorizar as quadras duras, piso em que gostar de atuar, com foco no US Open.
“Não vejo a hora de voltar às quadras. O que vai acontecer, eu não sei. A pandemia afetou todo mundo, espero voltar bem e recuperar aquele ritmo de jogo logo, logo”, disse.
Fã de Rafael Nadal, que preferiu não viajar para o US Open, Wild é o único brasileiro a conquistar o título juvenil desse Grand Slam e está no circuito profissional desde 2018.
O torneio será realizado no seu complexo tradicional, o Billie Jean King National Tennis Center, no Queens, em Nova York, mas sem a presença de público e com protocolo de testes e outras medidas de controle do coronavírus.
O torneio de Cincinnati, que será encerrado neste sábado (29), inclusive foi transferido para o mesmo complexo do US Open, evitando mais deslocamentos dos atletas.
Em pouco tempo, o paranaense vai se acostumando a superar marcas, mas não se ilude. Ele mesmo tenta desconstruir a fama de ser o mais jovem brasileiro a conquistar um torneio da ATP. O último havia sido Gustavo Kuerten, campeão de Roland Garros com 20 anos e 9 meses, em 1997.
“Muito legal ter superado uma marca do Guga, mas ganhei um ATP 250, e o Guga com 20 anos ganhou um Grand Slam, então não se compara”, constata.
“Infelizmente no Brasil só vale quem ganha, quem chega em segundo ou cai na semifinal nem sempre é bem lembrado, fica às vezes como fracassado. Mas isso vem em parte por culpa da imprensa, que está acostumada com os feitos do futebol e acredita que os outros esportes precisam ter o mesmo sucesso”, completa.
Para o técnico João Zwetsch, seu pupilo tem potencial para chegar pelo menos ao top 20. Em entrevistas recentes, o técnico elogiou a potência nos golpes de direita e pontuou as possibilidades de aprimorar o jogo de rede e o saque.
Explosivo em quadra, Wild também não se esquiva de polêmicas e provocações nas suas redes sociais. No Twitter, em meio a postagens sobre Harry Potter (saga da qual é fã) e Grêmio (seu time do coração), ele publica mensagens comentando atitudes dos figurões do circuito, que têm cada vez mais chances de serem seus adversários nos próximos torneios.
Ao abordar críticas a Novak Djokovic quando ele organizou em junho um torneio sem medidas restritivas e que acabou resultando em vários atletas infectados, inclusive o próprio sérvio, Wild concordou que o número 1 do mundo errou na execução.
Disse, porém, que a ideia era “até aceitável” e que considerava inacreditável a imprensa “acabando” com Djokovic. “Lembrando que não curto muito o jeito dele, nem o suposto carisma e a ambição de ser o Federer/Nadal”, escreveu.
Também reagiu quando o australiano Nick Kyrgios, conhecido por ser um personagem polêmico, chamou o alemão Alexander Zverev de egoísta por jogar o torneio de Djokovic e não cumprir isolamento na sequência: “É isso que tô vendo? Kyrgios com razão? É pessoal, o mundo tá um bgl [bagulho] muito loko”.
Perguntado sobre esse aspecto da sua personalidade, Wild diz que sempre foi autêntico. “É o meu jeito. Tem gente que gosta, tem gente que não. Isso faz parte.”